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Location: Fortaleza, Ceará, Brazil

Saturday, September 02, 2006

Mário Linhares

A Seca

Ceará. Pleno sertão. Agosto. Um sol de brasa
Queima impiedosmanete o ventre da floresta.
O ar, pesado, asfixia. O espaço nem uma asa
De ave corta. A adustão flores e frutos cresta.

Fuzila o dia. Em fúria, o vento, dentre a fresta
De abertas rochas, silva. À sede que o abrasa,
O touro escarva o chão e ao mormaço da sesta,
A dor da planta à dor dos pássaros se casa.

Nenhum riacho a colear o amplo seio do bosque.
É ardente o slo, é murcho o arbusto, é triste o prado;
E nenhuma hera ao tronco anoso há que se enrosque.

Calma. Pela esplanada apenas se ouve o pio
Dos anuns e o mugir convulsivo do gado,
Sob a cáustica luz desses dias de estio.


MÁRIO RÔMULO LINHARES (1889-1965)
Nascido em Fortaleza, cultivou a poesia parnasiana durante a maior parte de sua vida. Entre seus livros, destacam-se Florões (1912), Evangelho Pagão (1917), Poesias (1937), Ascensão (1953) e Contas Sem Fio (1961).

1 Comments:

Blogger Anamélia Custódio Mota said...

Mário Linhares!
Ora, este blog está recheado de discípulos da poeta FRANCISCA CLOTILDE.
É o própio Mario Linhares que afirma, referindo-se à sua ex-mestra: "Fui seu aluno aí por volta de 1904 (...) Foi ela que me ensinou os segredos da metrificação".
Valeu, Gustavo.

1:48 PM  

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