Cruz Filho
A Canção da Cigarra
E a velhice aí vem. Vem com os seus frios
Com o seu tristonho, o seu brumoso inverno,
E os céus, que eram azuis, ficam sombrios,
Desfaz-se o tempo que eu supunha eterno!
Flavos dias de sol, quentes estios,
Brando enlevo romântico e superno,
Que eu cantando passei - ei-los vazios,
Meus castelos de Sonho - ao vir do inverno!
Consumi, na loucura mais bizarra,
Chamando embalde uma perpétua ausente,
minha existência inútil de cigarra!
Paixão maldita! Desvairado anseio
Da cigarra, que invoca, inutilmente,
A doce companheira não veio!
A Ilusão do Sapo
Aos pinchos, pela sombra, indolente e moroso,
O batráquio estacou do fundo poço à borda,
E um momento quedou, como quem se recorda,
Surpreso ante a visão do poço silencioso.
Ao fundo, onde do céu, que de nuvens se borda,
Reflexa a imagem vê - pelo céu luminoso
Vê da Lua pairar o áureo disco radioso:
E o disforme animal de júbilo transborda...
Um momento quedou, mudo e perplexo. Ao centro,
A tentá-lo, a ilusão do astro de ouro flutua,
E o monstro eis que se arroja, a súbitas, dá dentro...
E a água convulsionou-se em círculos ondeantes,
num naufrágio de luz, em que perece a Lua,
dissolvida em rubis, topázios e diamantes.
JOSÉ DA CRUZ FILHO (1884-1974)
Nasceu em Canindé, Ceará, saiu de lá somente aos trinta e quatro anos, vindo a publicar, aos quarenta, seu primeiro livro, Poemas dos Belos Dias (1924). São seus, ainda, Poesia (1949) e Toda a Musa (1965). Eleito, em 1963, Príncipe dos Poetas Cearenses, tendo sido o segundo a receber esta láurea.
E a velhice aí vem. Vem com os seus frios
Com o seu tristonho, o seu brumoso inverno,
E os céus, que eram azuis, ficam sombrios,
Desfaz-se o tempo que eu supunha eterno!
Flavos dias de sol, quentes estios,
Brando enlevo romântico e superno,
Que eu cantando passei - ei-los vazios,
Meus castelos de Sonho - ao vir do inverno!
Consumi, na loucura mais bizarra,
Chamando embalde uma perpétua ausente,
minha existência inútil de cigarra!
Paixão maldita! Desvairado anseio
Da cigarra, que invoca, inutilmente,
A doce companheira não veio!
A Ilusão do Sapo
Aos pinchos, pela sombra, indolente e moroso,
O batráquio estacou do fundo poço à borda,
E um momento quedou, como quem se recorda,
Surpreso ante a visão do poço silencioso.
Ao fundo, onde do céu, que de nuvens se borda,
Reflexa a imagem vê - pelo céu luminoso
Vê da Lua pairar o áureo disco radioso:
E o disforme animal de júbilo transborda...
Um momento quedou, mudo e perplexo. Ao centro,
A tentá-lo, a ilusão do astro de ouro flutua,
E o monstro eis que se arroja, a súbitas, dá dentro...
E a água convulsionou-se em círculos ondeantes,
num naufrágio de luz, em que perece a Lua,
dissolvida em rubis, topázios e diamantes.
JOSÉ DA CRUZ FILHO (1884-1974)
Nasceu em Canindé, Ceará, saiu de lá somente aos trinta e quatro anos, vindo a publicar, aos quarenta, seu primeiro livro, Poemas dos Belos Dias (1924). São seus, ainda, Poesia (1949) e Toda a Musa (1965). Eleito, em 1963, Príncipe dos Poetas Cearenses, tendo sido o segundo a receber esta láurea.
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