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Location: Fortaleza, Ceará, Brazil

Thursday, August 31, 2006

Alf. Castro

Morte de Pã

Estendido no chão, no mais denso e profundo
Do bosque, dorme Pã. Dorme e fala. Delira.
Deixai-o descansar, que o deus é moribundo.
Vede-lhe a avena ali: por seu sopro suspira.

Mas encontram-no, acaso, as ninfas. Sobre o imundo
Fauno, que as perseguia, elas todas, em ira,
Com chufas e bastões lançam-se agora, a fundo,
Até que o deus, gemendo e soluçando, expira.

Então, uma, sem dó, os chavelhos lhe arranca;
Outra os olhos lhe espeta; outra lhe rasga a boca;
Outra, com a própria avena, o pé de cabra lhe espanca.

Depois, dando-se as mãos, ébrias do mesmo gozo,
O bosque inteiro atroando, em grita imensa e louca,
Dançam em derredor do sátiro asqueroso.

Cena Marinha

Nadando, acaso, sobre a emaranhada tela
Das algas, dos corais, dos pólipos gigantes,
Um tritão encontrou uma jovem sereia
Divagando, a cismar cismas de almas amantes.

Logo, o monstro marinho, inflamando-se, anseia
Por abraçá-la e tê-la. Ela o sente. Mas, antes
Desejando morrer, foge do monstro, cheia
Do mais justo pavor dos seus olhos chispantes.

Sobe. Apressa-se mais. Chega, por fim, à tona
Das águas. O tritão chega também. Desata,
Após ela, a correr - mais e mais a ambicina.

E, na porfia, os dois, em disparada, às soltas,
Voam. Na flor do mar há fulgores de prata
E um contínuo chofrar de águas e águas revoltas.


ALFREDO DE MIRANDA CASTRO (1873-1926)
Nascido em Pernambuco, foi o principal poeta do Parnasianismo, no sentido francês do termo, no Ceará. Em vida, publicou apenas De Sonho em Sonho (1906), já aqui em Fortaleza. A Universidade Federal do Ceará, em 1999, publicou o seu livro inédito Ocaso em Fogo.

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