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Location: Fortaleza, Ceará, Brazil

Friday, September 01, 2006

Carlos Gondim

As Ondas

Rolando as algas e lambendo as fragas,
Passam as ondas, céleres e frias,
- Formas nervosas de Nereidas vagas,
Esculturas de espumas fugidias.

Ora em coréias, como estranhas magas,
Recamadas de argênteas pedrarias,
Entoando ritos e cuspindo pragas,
Chegam para o sabbat das ardentias.

E, cheias de ânseias, cheias de desejos,
Ora, como serpentes enlaçadas,
Germem suspiros e soluçam beijos...

E, loucas, retorcendo-se na areia,
Como outras tantas Heros desgrenhadas,
Morrem, na praia, que o luar prateia.


As Cimbúlias

Irrequietas, à flor das ondas, em cardumes,
Ora róseas, abrindo as asas, ora azúleas,
Vogam na espuma argêntea, em seus radiosos lumes,
Como efêmeros sóis, errantes, as Cimbúlias.

Centenares, ao léu das vaga, em cerúleas
Conchas, de burgalhões e remotas negrumes
Surgem, bailando ao som de misteriosas dúlias,
Haurindo à equórea planta os estranhos perfumes.

Loucas, no amplo lençol das águas espumantes,
Brincam: - e é todo o mar refúlgida Golconda
De topázios, rubis, safiras e diamantes...

E, volúveis, ruflando as asas sobre as vagas,
Em farândola ideal, elas vão de onde em onda:
- Borboletas do oceano, adormecer nas fragas.


CARLOS GONDIM (1886-1930)
Nascido em Aratuba, foi um "boêmio incorrigível", nas palavras de Sânzio de Azevedo, chegando a envolver-se no mundo crime e a ser cumprir vários anos de prisão. No cárcero, leu e escreveu bastante. Foi assassinado, e o crime jamais esclarecido. Publicou Ode Republicana (1915), A Tortura do Artista (1915), Poemas do Cárcere (1923) e Ânsia Revel (1929).

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